25/11/06

palavras à solta...3



Da Entrega

Cada quadro que pintamos com as nossas palavras...
tem nossos nomes tatuados
não apenas os nomes
mas o nosso sentir
os sonhos
os sabores
a nossa essência
sim, bonito pelo sentir e pelo sentido
pela côr e pelo sabor
pela liberdade
pela espontaneidade
sim e só assim vale
e só assim é forte
porque só assim faz sentido
sozinhos não somos ninguém
amo o valor da partilha
sozinhos não somos ninguém, é verdade

só escrevo assim, porque estás aí
ou muito pouco somos
porque somos alguém
recuso ser ilha
e cada um de nós tem um valor próprio
e sozinho não consigo construir pontes
podes ser ilha com uma palmeira
nem estradas
nem nada
apenas ideias
a palmeira dá fruto sem que eu possa alterar o seu sabor
não podes, mas podes pensar, sonhar...
a partilha faz o sorriso do outro ter a nossa côr
ter o nosso sabor
sorrir juntos altera a qualidade do sorriso
e faz o sol brilhar mais
num brilho maior que a soma das partes
num carinho de cuidar, do tamanho do mar
do tamanho do a-mar
do infinito olhar
em cada sol que se põe, em cada lua que se ergue...

estou muito feliz por te encontrar
em cada encontro a vida oferece-nos uma prenda
faço um colar de flores
teu
porque não estou sozinho nesta ilha
não estás, estou aqui eu
flores e búzios
terra e mar
nos seus frutos
a natureza da nossa essência
aquilo que somos
acendo uma fogueira
apenas para alumiar a noite
ouves o estalar da madeira
o crepitar do fogo fulvo e rubro
misturado com o susurro do mar
a luz trémula da fogueira, faz dançar o nosso mundo
ao sabor da brisa
tremeluzindo
tudo ao redor dançando
sim
num embalo doce
uma dança estranha, mas tão suave
tao sensual
que embala os sentidos e convida ao adormecimento
peço a tua mão
que entrelaço na minha
e beijo a tua palma
e escutamos em silêncio o ruído do mar e do vento
como que beijando cada caminho teu
um silêncio que fala
um nada que é tanto
um infinito tão mensurável
olhos brilhantes do reflexo da fogueira
lindos
que tanto dizem calados
olhos de luar
olhos de sonho
cabelos teus que se elevam docemente
pela brisa
é o mar.. a querer enlaçar-se em ti
e que deixam espreitar os teus
que sentes com tua mão
querendo entrelaçarem-se neles
que fazes fluir entre teus dedos
bailando, eles também, felizes
colo a minha face à tua
eu também
e assim.. da mesma perspectiva.. ver o horizonte
que se nos abre
pleno
que se revela
magestoso
brilhante
salpicado de pequeninas estrelas
que se estende ao longo do recorte do mar
cintilantes
o meu céu é o teu olhar
e teus olhos.. as únicas estrelas que necessito para me guiar
e o meu olhar é o teu céu
o azul do teu céu.. ama o azul do meu mar
onde nos deleitamos, nos entregamos
e felizes, como duas crianças, brincamos
na areia
areia pura e fina
no mar que numa onda se faz cúmplice da nossa alegria
areia que nos cobre a pele
nos aquece
nos estremece
humedeço a minha mão
nos diverte
e com a pontinha do meu dedo
contorno o teu rosto
se nos cola como pele
numa benção
em que digo: T do mar
eu me encontro em mim
me encontro em ti
abraço-te
susurrando baixinho que sou a tua pele
que me visto de ti
e juntos, nos entregamos ao mar...
nas cores que és.. na protecção que dás
deixamos que o mar nos beije
a ambos como um só
estendo os braços
deitas-te sobres eles
e ficas assim...
embalada pelo mar
e neles encontro consolo
na segurança do meus braços
a tua pele brilha
tão bonita
com sabor a mar
olho-te
olho-te
e na tua serenidade.. encontro o meu bem-estar

e no meu olhar encontras a tua paz
fechas teus olhos
aproximo a minha face da tua
e sondo-te num beijo ternurento
fazendo dos meus lábios os dedos da minha alma

que sabe a maresia e a mel
que reconhecem cada bocadinho de ti
que sabe a algas
beijo-te com a ternura do sol
beijo-te com a ternura do mar
no beijo ao mar quando se põe
com a harmonia do sol quando acorda
sinto na tua boca, o ondular
do mar
o sabor a maresia
e mais não somos do que pedaços de mar e sol
na alegria inebriante do renascer
que se fazem cúmplices
a cada manhã acordar

a minha manhã é candosa
abrir os olhos ao dia e sorrir
se a teu lado.. despertar
porque ambos sabemos como é bom lado a lado caminhar
anda, vamos
anda, vamos! Vamos experimentar!

foto de olhares

32 comentários:

Rita Contreiras disse...

A união não faz desaparecer a beleza individual, mas se entrelaçam as belezas , gerando outra, rica, diversa das que são separadamente. O entrelace só vale assim. sem que se percam os sentidos de cada um, mas produzindo harmonia no conjunto como se fosse um só, sem, entretanto, ser.Ótimo final de semana. Bjs.

Anónimo disse...

Mais um belo momento de ler, sentir e pensar... Liberdade, espontaneidade, experiência... Só assim vale!
:)

Bom fim-de-semana!

Jinhos!

Amaral disse...

Longo mas feito de pedaços autênticos de coisas de nós...
Um quadro pintado do tudo que nos extravasa, do amor partilhado com os valores que fazem sorrir, da felicidade que brota dum colar de flores, duma dança suave e sensual que o silêncio reflecte num luar de sonho.
As estrelas do céu brincam como crianças. E o Amor colhe os louros da vitória, numa experiência impar aos olhos dum novo dia...

Um Poema disse...

No regresso vim agradecer a tua visita e ler-te.
Um abraço

Kaotica disse...

Uma bela fotografia que tão bem ilustra esse belo poema de amor. O momento a dois, momento máximo da partilha quando há amor.
É precisamente o momento da partilha que distingue fazer sexo de fazer amor:
Fazer sexo - busca desenfreada do prazer individual;
Fazer amor - união que busca alcançar e desfrutar da partilha do prazer mútuo.
Desejo-te um óptimo fim de semana. Aproveita para partilhar todo esse amor que aparece contido no poema. Abraços!

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Um momento de reflexõa de ilusão. Da doçura na leitura eu sinto muita alegria.
há um entrelace de almas.

Novamente um lindo texto

beijos TB
;)

as velas ardem ate ao fim disse...

Posso ir contigo?

Magnifico.

Bjinhos e boa semana

benechaves disse...

Oi, minha amiga: você fez uma verdadeira apologia ao mar e similares no quadro que pintou com, talvez, a areia da praia e os pincéis da vida. Uma ode também à natureza. Fiz bem em atravessar o oceano bravo e me encantar com suas letras desenhadas.

Um beijo lírico...

Anónimo disse...

Que belo poema, minha Amiga!
Você nos conduz com a leveza e a justeza da palavra certa, no lugar certo.
Uma semana de novos sonhos e novos poemas!
Com o abraço do
Bosco

Alberto Oliveira disse...

... depois de te entregares assim às letras, só te posso desejar uma óptima semana!

Jinhos.

Outsider disse...

Estou sem palavras... A tua poesia está a atingir um nível de nos cortar o folêgo. Tenho que reler pois a beleza contida nas palavras, não é absorvivel à primeira leitura.
Beijos.

A. Pinto Correia disse...

recuso abdicar. Foi bom ter-te descoberto
Bjs

Francisco Sobreira disse...

Querida Teresa, Sempre soltando palavras que nos comovem. E, dessa vez, com uma fertilidade que não tinhas apresentado. Parece, ou estou enganado? que estás te soltando mais e mais. Não sei se já te disse, mas se te disse, vou repetir: gostaria de ver um texto teu em prosa, ficcional ou não. Que tal? Por fim, uma atraente foto. Um beijo afetuoso e uma linda semana.

Cris disse...

Estou sem palavras e não me atrevo a comentar, está lindo de se ler e sentir! vou voltar...

Um bjo e muito obrigado pela visita a Terra!

Cris

António disse...

Querida Teresa!
Escreve poemas ou textos pequenos e com uma cor porque desses é que eu gosto!
Obrigado pela visita e pelo comentário.

Beijinhos

Plum disse...

Adorei!!!Não preciso dizer mais nada!abraços!*

Fragmentos Betty Martins disse...

Olá Teresa

O teu poema é lindo - de se ler - entender e de se sentir

Foste magnífica nos sentires profundos - e na beleza com que escreveste

PARABÉNS!

Beijinhos com carinho
BoaSemana

Deixo aqui um poema para homenagear o "poeta Mário Cesariny" que partiu - mas estará sempre VIVO em cada palavra - sentida - escrita por qualquer poeta

"lembra-te"

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos

(Mário Cesariny)

Kaos disse...

Mais uma vez acabo de ler, re-ler, a direiro, a branco, a laranja e em cada leitura um poema diferente mas sempre a alegrai e o sentir da partilha que nos tiram o folego e nos deixa naquele silencio de ter passado por um momento unico que queremos repetido até ao infinito. Há por ai um companheiro que teve toda a sorte do mundo de poder viver num universo como o teu.
bjs

Isa e Luis disse...

Quando assim soltas as palavras, a tua alma fica nua e a sua beleza transparece.
Um beijo!
Luis

Rui disse...

Palavras entregues ao vento para espalhar por aí. Vão criar raízes e tornar-se em belas flores.
Obrigado.

de Matos disse...

maginifica foto, assim como as palavras. genuinas, belissimas

bjs e desculpa a ausencia mas isto anda complicadoooo

Rosa Brava disse...

Ao ler este Poema, como se de uma Carta de Amor se tratasse, recordei Álvaro de Campos

"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)"

Um excelente momento poético!

Porque sem cartas de amor,
mesmo que sejam em verso,
como viveríamos?


Um abraço ;)

Luiz Carlos Reis disse...

Que magnífico poema de amor. Métrica, lirismo, harmonia e um toque todo especial da escriba.
A trilha e o labor que nos leva ao amor. Fique bem!

Abraços no coração!

Nilson Barcelli disse...

Como é lindo e bem escrito o teu poema.
A entrega, a partilha, a liberdade, a alegria, a serenidade... estão lá quase todos os condimentos necessários para a felicidade.
Beijinhos.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

...Pois é! Mais palavras para quê?
Já foi tudo dito...

Anónimo disse...

Diria que este poema nasceu há muito tempo! Diria mais... na sua eternidade agora revelada, a força que transmite, é enorme. Dividi, sem te pedir, este poema em algumas partes, sem todavia o desmembrar.
Falas de partilha para logo buscares a alma do verbo na essência desse amor... sei lá onde... E haverá quem saiba?
Adorei! Fez-me voltar a alma o cheiro da minha maresia! oh! que saudades... espero ainda voltar lá!
Sei que me entendeste. Pois... eu sei querida... isto é como as mares... ela há-de voltar, julgo eu! A minha maresia!
Adoro-te!
Carmen

Anónimo disse...

Ah! é verdade!... esqueci-me de te dizer que a foto é lindíssima! Adorei!
Carmen

douglas D. disse...

olá!
bjos.

Anónimo disse...

E l´está ela, com seus versos soltas na brisa morna do fim do dia.
Que maravilha dona moça.

Simplesmente magnífico.

Me perco e me acho em suas palavras,

Beijo moça

:****

José Pires F. disse...

Embora o digas no masculino, só uma parte feminina o escreveria assim.

Não será paixão, porque a paixão não tem esta suavidade e esta certeza, mas é com certeza amor e de enorme fôlego.

Bem-hajas.

Plum disse...

Bom fim de semana!cheio de magia!*

mitro disse...

"Cada quadro que pintamos com as nossas palavras...
tem nossos nomes tatuados"

Este começo prometia tanto!