28/12/06


Fui trilho, passo, sulco na areia...
Sou caminho, rumo que traço, meta que faço...
Sonho ser destino, em mil passos picotado,
Por infinitas linhas desenhado, pelo azul do mar colorido e,
por ti... vida, ser amado, ser fado, desejado, querido.
Foto de R.

22/12/06

aos amigos...


A cada dia, a cada hora,
a cada um dos amigos que por aqui me têm dado o prazer da sua companhia,
transformada em palavras
ou apenas em silêncios...
deixo o meu mar e a sua luz
num abraço prolongado e alongado
como a onda que enlaça ternamente...
que a todo o tempo, o olhar seduz.
Festas Felizes!

18/12/06

Ser...


Ser boneca de trapos, de mil rabiscos,
de vis farrapos...
Ser homem senhor, do infinito louvor,

da nobre cor...
Antes ser trapo sorriso nas mãos de uma criança...
Que parecer manto seda aos ombros do nada,
Vazio de esperança...

13/12/06

abstrações...


Caminho distraida pela praia...
olhando o chumbo e prata, reflexo de um dia sem sol.....
ouço ao longe o piar das aves....
a espuma das ondas lentamente vem beijar-me os pés,
levando consigo a marca das pegadas...

10/12/06

Conto de Natal


Ela olhava pela vidraça a chuva fustigando a Natureza.
Aquele som familiar fê-la transportar muitos anos atrás quando tudo era mais simples, ou talvez não. A simplicidade estava no facto de que ela era a criança. A noite de todas as magias em que o sono se recusava a vir pela excitação dos presentes. Parcos e pobres resumindo-se a um par de soquetes alvos como a neve que cobria os campos... nos anos melhores acompanhavam-nos uns figos secos e uns rebuçados, luxo a que nem sempre tinham direito, mas a magia... Ah a magia daquela noite especial...
Uma rajada de vento mais forte fê-la voltar à realidade. Olhou de novo a Natureza que se havia já despido das suas maravilhosas folhas verdes, varridas pelos ventos. Algumas árvores conservavam ainda as suas cores avermelhadas ou douradas transformando tudo num festival de colorido e matizes diferentes. Uma festa para o olhar. As primeiras chuvas tinham dado lugar ao frio e tudo começava a vestir-se com um manto branco, qe realçava os contrastes do que ficava à vista. Uma época de recolhimento. Aproximava-se o Natal. Mais um, como tantos outros. E ela tinha um problema para resolver...Sentia-se nua, como as árvores.
No apartamento minúsculo a falta de recursos sentava-se todos os dias à mesa com a sua família.
O Pai Natal vestido de desemprego tinha escolhido o seu lar para fazer a sua visita...
Teria que gerir os escassos recursos, ela a mãe, (porque a ela calhava sempre a árdua tarefa de fazer o “milagre” da mutiplicação do tão pouco quase nada). A sua angústia era como daria uma prenda ao seu filho de dois anos? Não que ela achasse que o natal é isso, mas porque assim foi tranformado e as crianças vivem as prendas com a magia que lhes é tão comum. Ela sabia, oh se sabia...
Ao menino interessava apenas que houvesse uma árvore e prendinhas, pequenos pedaços de papel colorido envoltos em fitinhas de várias cores, o que, transforma o olhar de qualquer criança de dois anos, em estrelinhas brilhantes.
Então teve uma ideia. Iria chamar o menino, explicando-lhe em palavras simples que nesse Natal tinham um problema que queria partilhar com ele.
Se bem o pensou melhor o fez e chamando o menino disse-lhe:
- Filho, acho que este ano está difícil ter dinheiro para as prendinhas
O menino entristeceu por uns momentos mas logo a seguir disse:
- Mas eu só queria prendinhas debaixo da árvore!...
Olha já sei mãe, - continuou o menino com os olhos brilhando – fazemos assim: embrulhamos os carrinhos e fazemos prendinhas que ficam aqui debaixo a enfeitar a árvore. Pode ser mãe? Ajudas-me? Anda vamos os dois.
E lá começaram ambos a embrulhar os carrinhos já usados, uns livrinhos e alguns bonecos, transformando-os em belas e coloridas prendas.
E que lindas ficavam debaixo da árvore onde as luzinhas piscando ainda realçavam mais a sua beleza e cor.
Como o menino gostava de ficar ali sentado a admirar as prendinhas...
E chegou a noite de todas as magias... o menino mal podia esperar que a hora de abrir as prendas chegasse... constantemente perguntava se já eram horas. E ela chegou! O menino abria, ajudado pela mãe, as suas lindas e coloridas prendas, com os olhos a brilhar de surpresa, os pequenos embrulhos, com a alegria da descoberta, como se não soubesse de antemão o que iria encontrar.
A mãe, vendo o menino e a sua alegria, deixou escorrer uma lágrima marcando na sua lembrança que as necessidades são criadas pelos adultos tornando as crianças, quantas vezes, infelizes...


foto mil imagens


Este conto é publicado no âmbito do seguinte desafio:
Hoje, pelas 21 horas de Portugal e 19 do Brasil, terá inicio a 5ª edição dos desafios de criação de Contos, numa iniciativa do Canto de Contos. O mote é o tema de Natal. Podem ver os concorrentes no link do Canto dos Contos.

07/12/06

partilhando...


Falo da terra que penetra no mar
Fecundando-o com sementes do meu sonhar...
Espada, lança de guerra,
Pelas ondas forjada
Ao horizonte apontada...
Caminho que até ao mar se estende...
Fazendo da praia ponto de partida para uma demanda
Que só o sonho entende...


Porque a partilha é o melhor da vida...cá está!

05/12/06

palavras à solta...4


Do Gostar

Os beijos que damos
Os que gostaríamos de ter dado
tão doces
tão meus
tão nossos
retribuo-os
na partilha doce

e eu guardo-os
na cumplicidade saudável
na liberdade de pensamento
e em cada um... derreto a minha ternura em ti
deixo marca minha marca

indelével
mas que permanece
que resiste
para além do estar
para além do ser
não sofre erosão
não se decompõe
é orgânico
mas não se deteriora
apenas... marca!
marca e fica
assim como tu fizeste em mim
e vinca
marcaste-me e ficaste
permaneceste
vincaste-me
fizeste de mim folha escrita
folha alva
que se abre ao vento como vela de veleiro
com entrelinhas de azul
que esvoaça cruzando os mares
fundindo nas estrelas
brilhando mais do que elas...
abro o meu abraço
a ti minha estrela polar
abro meu abraço
e te enlaço...
e assim de braços abertos
sou vela que cativa o vento
e o transforma em força
sou vela que o ampara
em navegar
sou rocha
sou... espuma, apenas!
e eu sou mar teu
teu jardim, minha flor
teu céu, minha estrela
teu mundo, meu sorriso
lindo tu que vês a beleza
linda tu que a compreendes
que a cantas em palavras de luz e cor
em notas de uma melodia..
dedilhadas nas teclas de um piano...


foto de olhares