27/11/10

Ao romper do sol...




Sim,
procuro-te nos ventos mais agrestes, nos verdes ramos, nos penhascos
que se debruçam sobre ti, mar.
Sim, procuro em todos os azuis que os
meus olhos ainda que fechados, alcançam.
Procuro-te sim, mas apenas me
encontro cada dia mais a mim...e tu?
és sombra que te diluis mal o sol quer romper...
estendo-te a mão, ...
estendes-me a mão, mas tanta a distância...,
essa força que em vez de aproximar, suga, para o nunca mais...

Renascer

(...)

beijo-te com a ternura do sol
beijo-te com a ternura do mar
no beijo ao sol quando se põe
com a harmonia do mar quando acorda
sinto na tua boca,
o ondular

do mar
o sabor a maresia
e mais não somos
do que pedaços
de mar e sol

na alegria inebriante do renascer.

 

Foto: minha

 

21/11/10

Com poesia no olhar...


Esperava há tanto que acontecesse um milagre. Costumava ficar ali esquecida escutando apenas.  Tinha já ouvido dizer que não havia milagres. Mas ela acreditava. Sabia no fundo de si mesma que sim, existiam, quando queremos muito.
Estava ali, parada ouvindo apenas o eco dos passos na calçada, que lhe chegavam de quem passava ao lado, sem sequer se deter para um olhar ainda que breve, perdendo-se sempre ao longe, ou o arrulho dos pombos esvoaçando por cima da sua cabeça, ou vez em quando, a criançada que por ali corria naquela alegre chilreada que lhes é tão própria.
Nessas alturas, ainda alimentava a secreta esperança de serem elas, as crianças, a realizarem o milagre. Mas não. A cada dia que ouvia estes sons, desviava ligeiramente a cortina para ver o que se passava mas, deparava sempre com aquele recorte de azulejo azulado onde se podiam ver os efeitos da marca do tempo, num passar vagaroso de dias que se transformaram em anos.
Sabia, ou melhor, suspeitava, que para além daquela parede devia haver  verdes prados salpicados de flores multicolores, mares, rios e, talvez, alguém que lhe alterasse a rotina, destino dos seus dias, que a mantinha cativa.
Tanto desejou que esse desejo se materializou.
Certo dia, aconteceu passar por lá um pescador de pérolas, com poesia no olhar, que a captou e a trouxe da parede onde jazia cativa, a ver o mar...

Foto oferecida pelo amigo JR a quem agradeço

19/11/10

Um dia, com as cores da minha fantasia pinto-te, quadro feito magia...


Foto da Xana

09/11/10

Crescer a olhos vistos


Criança pequena, mal se segurava ainda nas pernas e nas palavras, seguia o pai, enquanto este tratava da horta, saltitando alegremente.
O canteiro das alfaces acabadas de plantar, pareciam-lhes luzinhas verdes todas muito certinhas em carreira, em cima da maracha que havia de lhes ser suporte para regas futuras e dificultando o acesso às lesmas e caracóis tão amigos de se banquetearem com aquelas folhinhas frescas.
A cada dia que passava mais e mais se notava o crescimento daquelas folhinhas dando forma e corpo à adulta alface.
Certa vez a menina, sempre atenta aos gestos e palavras do pai ouviu-o dizer:
- As alfaces crescem a olhos vistos!
Estas palavras ecoaram naquela cabecinha pequena, maravilhando-a.
No dia seguinte, sem dizer nada a ninguém, sentou-se muito quietinha, junto do canteiro das alfaces e por ali ficou esquecida.
A mãe, dando pela sua falta, procurou-a e encontrando-a junto ao canteiro, perguntou-lhe:
- Filha o que fazes aqui? Andava doida à tua procura!
A menina, muito calmamente, olhando a mãe, com aquela ternura e simplicidade que só as crianças conseguem, disse-lhe:
- Estou a ver crescer as alfaces.
- A ver crescer as alfaces? – perguntou a mãe, muito surpreendida.
- Sim, respondeu a menina. O pai disse que as alfaces crescem a olhos vistos...
Como é bom ser criança!


foto da net

08/11/10

Voar, apenas

Vou por aí abrindo as asas e olhando o infinito...

desconheço o autor da foto, a quem agradeço.

02/11/10

Olhar...

Sento-me olhando este mar, mais parecendo estrada atapetada de sumo de romã e mel de rosmaninho. 
Ao longe os edifícios erguem-se no alto tentando tocar as nuvens.
Mais além, as nuvens ciosas do mar, vêm tocar-lhe beijando-o ao de leve e carregando-o no seu interior, até aos céus...
Um dia será chuva e lavará a minha cabeça em união com a Terra...

Foto de JR a quem muito agradeço