27/02/11

Amor


A morte vestiu-se de barco em corpo de água...
Tinha asas e voava, alegre e feliz percorrendo o céu, namorando o mar, banhando-se nas suas ondas em alegres gritos de prazer sempre que recolhia no seu bico o alimento da vida, dádiva que agradecia.
Apreciava durante os seus voos tantos olhares de quem sonhava como ela, voar livre amando  o mar.
Tinha asas e voava, mas... como todos os seres vivos que habitam este planeta, sabia da sua finitude e que chegaria o seu ponto de partida. O dia em que sobre as suas asas sopraria um vento leve e frio derrubando-as na areia que lhes seria manto e mortalha.
Tinha vivido cada momento e quando se diluísse iria ser parte desse mar que tanto amara em vida, por isso partia feliz de onde e para onde sempre pertencera...


foto de Z. a quem agradeço

18/02/11

esvoaçando 1


Bom amigo,

Entendo da tua necessidade de saber se me sinto bem. Entendo-a por mim.
Sabes que felizmente os dias não são iguais e sou pessoa de pegar numa
vassoura e vassourar nuvens negras...
Nem sempre, no entanto, temos a força necessária, para tantas agressões exteriores a nós, a que somos diariamente, sujeitos...
Mas sim, hoje o dia acordou risonho, fui à praça da rua comprar fruta, legumes e outras coisas necessárias à alimentação da família, ajudei e fui ajudada e por isso só tenho de dar graças pelo que me é dado. Além disso tenho as tuas palavras sempre amigas e ternas que ajudam a encher os dias de um pouco mais de sol...
Envio-te algo hoje, que sei e entendo pertencer à chamada cultura mas que para mim (isto é um segredo que te revelo) não tem qualquer valor. É austero e sempre que olho para esta concentração de riqueza, vejo a fome e sofrimento de tantos povos para que isto se materializasse e materialize em nome de um Deus que sendo amor, querem transformar em fausto e glória de bens terrenos.
Afinal nascemos, vivemos, morremos e tudo fica,  até que o tempo o apague na sua borracha impiedosa, dizem uns, eu direi apenas inteligente...
Sei que sou esquisita e estranha. Tenho vivido com este estigma desde tenra idade de tal modo que já me é pele,  por isso te digo este segredo por saber que me entendes e me aceitas com toda a minha estranheza,  tal qual sou.
E assim, porque hoje é sexta e amanhã dizemos adeus à rotina que tanto nos "aperreia" o viver,  te envio beijos na ponta dos dedos soprados com um sorriso
para que o dia te seja um pouco mais...

Com amizade, até outro momento

TB


foto de uma catedral de Milão

06/02/11

Egos


Por cima dos canteiros onde os pais cultivavam os mimos para a sua subsistência havia  sempre uns seres que a menina achava imensamente engraçados, por tão ridículos.
Não eram assim de pele como ela e as outras crianças, mas sim feitos de palha, os braços e as pernas eram de pau e sempre com um chapéu, também feito de palha, na cabeça. Pensava a menina que fosse para se protegerem do sol e da chuva pois que permaneciam imóveis dias e dias...
Ela costumava ficar por ali admirando aqueles seres bizarros. Os pássaros vinham em bandos namorar as “novidades” verdinhas e viçosas e poisavam em cima destas figuras tornando-as ainda mais estranhas.
Um dia a menina perguntou à mãe:
- Mãe, para que servem estes seres, por ali sempre imóveis nos canteiros?
A mãe sorrindo respondeu:
- São para afugentar os pássaros.
- Então porque pousam os pássaros neles? Parecem ter pouco medo- respondeu a menina.
- Sabes, os pássaros são sábios.
Eles sabem que são apenas figuras de palha. Pela vida fora irás encontrar muitas figuras assim...


foto da net