23/04/15

Avivar memórias!

Para que a memória não morra e se cumpra o que nos querem apagar: a liberdade de Sermos!...

11/04/15

ai os olhos...



Filipe não era um homem bonito. Com feições muito corretas, tinha um certo charme e porte digno, que lhe granjeava o olhar e atenção das mulheres e até de outros homens.

Vivia sozinho, trabalhava na área das vendas, o que lhe dava liberdade de ação, independência financeira, e permitia contatar com muita gente, uma vez que se deslocava por todo o país. Possuía um humor fino e sorriso fácil, o que o tornava imediatamente simpático e empático.

A sua casa, um primeiro andar de um prédio, situado num bonito e arejado local, com pracetas ajardinadas, permitia-lhe desfrutar de uma paisagem agradável, nos momentos de merecido descanso, em que se estendia no sofá, na varanda envidraçada, admirando a paisagem ao seu redor.

Certo dia, os seus olhos detiveram-se numa linda figura feminina na janela do prédio em frente do seu. Levou uma espécie de choque. Como nunca tinha reparado nela? Na sua beleza suave, nas linhas perfeitas do rosto e pescoço e no reflexo dos cabelos, aos quais o sol dava mais brilho?

Sempre que tinha um momento de repouso lá corria ele a casa para admirar a bela mulher. Mas nem sempre ela estava, o que o deixava ansioso.

O tempo correu e ele cada vez sentindo-se mais atraído por aquela figura, dando-se conta de um sentimento estranho e algo indefenido ainda, a nascer-lhe no peito. Quem seria ela? Como seria o seu nome? O que faria? Porque estaria sempre tão sossegada à janela, olhando a rua com ar tão sereno mas ao mesmo tempo tão melancólico?  Teria alguma doença grave, algum desgosto de amor? Tinha de descobrir.

Estas e outras perguntas acudiam-lhe à mente, martelando-a constantemente, assim que a tinha mais desocupada.

Tinha de descobrir, iria lá apresentando-se como o vizinho e oferecendo os seus préstimos, mas... o que pensaria ela? Aceitaria de bom grado? Tanto pensou que não podendo mais conter o impulso, saiu, dirigiu-se ao prédio, tocou a campainha e esperou com o coração aos saltos no peito e na garganta.

Passados poucos minutos abriu-se a porta e uma mulher jovem, bonita, simpática, mas não a da janela, veio abrir a porta.

- Boa tarde, o que deseja?

- Boa tarde, sou o Filipe, o vizinho da frente e costumo ver a senhora à janela. Resolvi vir até cá oferecer os meus préstimos. É sempre bom conhecer e socializar com os vizinhos.

- Muito obrigada, respondeu a moça com um amplo sorriso. Faça o favor de entrar.

O coração dele não parava de bater, na ansiedade de conhecer a mulher da janela.

Já dentro de casa, a moça disse:

- Sou a Joana e sou modista. Trabalho em casa e faço fatos especialmente para lojas de alta costura, para senhora.

Enquanto falava iam-se encaminhando para uma ampla sala, muito bem mobilada, mas que se via ser de trabalho. Havia vários manequins vestidos com os fatos em prova, máquinas de costura e mesas de corte, enfim tudo o que servia para uma modista de alta costura trabalhar.
De repente o coração deu-lhe um salto. Lá ao canto da janela defronte à sua varanda, lá estava estática e queda, bela e serena, a sua mulher da janela, vestida com uma roupa de prova...

história escrita para a Tertúlia "Et Quoi", cujo tema era a mentira.