22/08/15

O Comboio



Os seus olhos, outrora dois faróis mais brilhantes do que o sol, em dias de Verão, estavam cansados e mais tempo fechados que abertos.
Tinha sido uma bela máquina e orgulhava-se do seu brilho e força, podendo puxar várias carruagens carregadas com gente ou mercadorias, por esse mundo fora, dentro sempre dos trilhos que lhe eram destinados, mas vendo o mundo girar umas vezes à superfície do chão, outras, à altura do céu, em pontes e aquedutos que lhe mostravam o mundo numa perspectiva diferente.
Agora, ao fim de tantos anos de idas e vindas, ali estava, juntamente com outras suas iguais, ao serviço de uma comunidade, quase toda em ponto pequeno e que chegavam, quais bandos de pardais, deliciando-se com as histórias que podiam ouvir da guia e ainda apreciar a cobertura reluzente e bem cuidada do seu corpo.
Não se sentia inútil, ainda que se tivessem acabado as viagens. Chegara o tempo de descansar, fazer ou ver coisas novas, diferentes das que até aí conhecia.
Agora, peça de museu, apreciava os olhares admirados e maravilhados das crianças e adultos que lhe afagavam a pele curtida pelo tempo enquanto se iam inteirando das aventuras da sua já longa vida.


Foto da Net

Pequena história escrita para a Tertúlia do Grupo ET Quoi, cujo tema era "o Comboio".