14/07/18

Julho


- Meus filhos têm de aprender a voar – dizia a mãe extremosa a seus filhos de tenra idade. Temos muito que andar assim que o Outono chegar, neste país que nos abriga. A caminhada é longa e só o treino e a força nas asas nos salvam da exaustão.
Não sei o que se passa este ano, continuava a mãe andorinha, escutada com toda a atenção pelo seu companheiro de vida e respetivos filhotes. O sol não quer acordar, o frio e vento não nos querem deixar, a chuva parece andar muito saudosa e por isso não nos larga. Estou muito preocupada se isto continua. Já estamos no mês a que os humanos chamam Julho e Verão, porque os ouvi conversar. Até duvidei por momentos se não me teria enganado no calendário. Sei que já devíamos andar a treinar voos, pois Setembro chega que é um instante. Por isso, toca a aproveitar o pouco tempo de sol e sequinho para fazer exercícios acrobáticos. Temos muito caminho pela frente até que cheguemos de novo ao país que nos acolhe quando aqui é Inverno. Somos pássaros anunciadores de bom tempo, não de invernias. Hoje vocês não o sabem, mas vão aprender conforme forem crescendo.
Os pequenotes abeiraram-se no ninho, espreitaram, mediram a altura, sacudiram as asas e esvoaçaram, sempre seguidos pelo olhar atento dos pais. Um a um saltou sentindo que o céu se abria fugindo-lhe o pé, as asas e o fôlego, mas de repente, que maravilha, as asas em conjunto com as suas frágeis patinhas mantinham-nos no ar em voo. Os pais incitavam-nos dando-lhes instruções e formas de voar daquele modo que só as andorinhas sabem. Podia ouvir-se aquele piar que mais parece guincho alegre enchendo o ar e lá iam treinando golpes de asa.
Não sei se as andorinhas sabem as estações e consequentes meses do ano, mas sei que elas voltam a cada Primavera, a este país a que chamam Portugal.
É uma alegria vê-las chegar pois anunciam que a invernia fria e chuvosa terminou e a Natureza se prepara para rebentar em flores, folhas e verdes de tonalidade diferentes que despontam por todo o lado e abre a porta ao Verão, tempo quente e dias grandes, onde o sol e calor se fazem presença diária animando crianças e adultos e convidando aos prazeres da praia ou do campo, com os piqueniques à beira dos rios, onde bandos de crianças, chapinhando na água preenchem o espaço aéreo de chilreios como se fossem pássaros.
Todos os anos esta espécie de ritual se repete e todos os Julhos são Verões, menos neste.

Texto escrito para a tertúlia Et Quoi, cujo tema era Julho.