20/12/14

Conto de Natal 2014



As suas lembranças resumiam-se aquele pequeno espaço que podia vislumbrar por entre as grades da gaiola onde sempre vivera.
Todas as manhãs, o seu dono lhe trazia alguns pedacinhos de comida, água e limpava o espaço interior.
Ela, a quem chamavam Rita, era uma ave que tinha nascido para voar livremente pelos céus, com outras, suas iguais, mas tal não tinha acontecido, pois que desde a mais tenra infância a prenderam naquela gaiola de onde, por mais esforço que fizesse, não conseguia sair.
No início ainda se debatera fortemente, atirando-se contra as grades, a porta e aquelas pequenas ranhuras que suportavam a água, mas depressa reconheceu que apenas conseguia ficar magoada e entregou-se ao cativeiro.
Passava o dia à espera que viesse a água, a comida e, em dias mais felizes, alguém para falar com ela.
A sua cauda, que deveria ter penas lindas e brilhantes, não cresceu devido ao ínfimo espaço da gaiola, não lhe permitindo desenvolver membros fortes, nem cauda comprida, como as suas iguais.
Os pardais, melros e outras aves vinham saltitantes debicar-lhe nas grades  perguntando-lhe quando se libertava ela daquela jaula.
Mas ela, encolhia as asas respondendo:
- Tenho casa, quem me trate, água e comida à disposição porque hei-de ir à aventura, sem saber o que me irá acontecer? Trocar o certo pelo incerto, e quem sabe ainda acabar morta aí nalgum buraco sombrio.
- Mas, diziam as outras – tens a liberdade de voar por onde queres, encontrar um companheiro e construir o teu ninho e a tua própria família. Experimentar ser empurrada pelo vento, lavar a plumagem com as gotas imaculadas da chuva, brincar no ar como se cada minuto fosse o último da tua vida.
Mas nada, a nossa Rita ficava muito quieta e calada, talvez a meditar sobre tudo o que as outras aves diziam.
Certo dia, veio pousar, na beira do parapeito onde se encontrava a gaiola, uma linda ave, igual à Rita, com uma maravilhosa cauda feita de penas tão pretas e brilhantes, que ao sol mais pareciam pedras preciosas com reflexos de azul.
- Quem és tu, perguntou a Rita surpresa.
- Sou uma pega rabuda, como tu, mas sou um macho – respondeu a linda ave.
- Tens uma cauda tão bela. Quem me dera ter uma assim também, disse a Rita.
- Podes ter, respondeu o macho. Para isso basta que te libertes desse cativeiro e venhas comigo cruzando os ares e vivendo na Natureza.
A Rita ficou muito calada pensando em como seria bom ir com ele. Passado uns minutos disse:
- Até gostava de experimentar ir contigo, mas como faço para sair daqui? A porta está sempre fechada.
- Queres mesmo sair? Então deixa comigo, disse o macho, enquanto com o bico forte e duro fazia os possíveis para conseguir abrir a porta da gaiola.
Ao fim de alguma insistência lá conseguiu, libertando a Rita, que habituada a estar presa tanto tempo, tinha as asas fracas e não sabia como voar.
- Não te preocupes, disse o macho, enquanto lhe segurava com desvelo e carinho, as asas ajudando-a a voar.
Ao fim de uns instantes, a Rita abriu as asas, apanhou impulso e... maravilha, conseguiu voar.
Ao princípio ainda com alguma dificuldade, mas à medida que voava crescia mais e mais a confiança e lá partiram os dois rumo a novas descobertas e aventuras.
Passaram alguns dias e as penas da cauda da Rita, que devido ao seu cativeiro não puderam crescer, começaram lentamente a despontar até que um dia, surpresa, alegria e satisfação, aquela ave maravilhosa que ganhara a sua liberdade renascia, por fim, vencendo o vento, encarando o sol, e os céus, com uma cauda maravilhosamente resplandecente.


Foto da net.