Tinha nascido menina bela, com uns olhos onde cabiam todos os mares, a cabeça adornada de belos cachos loiros como uvas maduras beijadas pelo sol do Verão, um sorriso mais brilhante que o mais belo luar de Janeiro e uma doçura que encantava o bosque onde nasceu.
Tão bela criatura tinha de ser abençoada.
No bosque viviam as fadas, seres encantados que apenas as crianças viam e ouviam, e que tinham poderes especiais que davam aos meninos que se portavam melhor , obedientes aos pais e amigos de todas as criaturas do Bosque.
A bela menina, andando por ali distraída vendo as flores e as borboletas que com todas aquelas cores, quase se confundiam com elas, ouviu uma vozinha falando baixo e suavemente que lhe disse:
- Linda menina, eu sou a tua fada madrinha, vim porque tenho um poder especial para te dar. O que queres ser durante a tua vida?
A menina, apanhada de surpresa, ficou calada. Ela gostava muito de ver os animais do Bosque, as flores, as borboletas, as árvores, os tapetes de musgo verdinho no Inverno, e sobretudo os rebanhos de ovelhas e cabras que costumava apreciar pela orla do bosque como pontinhos multicolores destacando-se do resto da paisagem, enquanto o pastor encostado ao seu cajado, por ali ficava olhando a paisagem e o seu rebanho conversando com os cães pastores e lhes assobiava para juntar os animais. Então a menina disse à fada:
- Quero ser pastora!
A fada ouvindo aquele curioso pedido, disse-lhe:
- Assim será! No entanto serás Pastora não de animais mas sim de Palavras. Dito isto, tocou-lhe com uma varinha que tinha na mão, mais parecendo uma estrela de tão brilhante, e foi-se embora.
A menina ainda mal refeita da surpresa começou a apalpar-se para ver o que tinha mudado e não encontrou nada diferente.
Passou o tempo, a menina foi crescendo,saiu do bosque para outro local e foi para a escola. Estudou muito, sempre estudiosa e dedicada começando a sentir um gosto e carinho especial pelas palavras.
A paixão foi crescendo à medida que o tempo passava e a menina se ia tornando adolescente e mulher e de tal ordem a foi acompanhando que se tornou uma escritora ímpar.
Viajou, conheceu outros países com pessoas diferentes e modos de vida diferentes, sempre com o afã de saber mais e adquirir mais conhecimento enriquecendo assim a sua existência e essência.
Quando se sentava para escrever as palavras nasciam em cascata do seu pensamento e passavam pelos dedos como rios. Senhora conhecedora do visível e do invisível, do dizível e do indizível, dos mistérios de deuses e anjos, e da imensidão entre o céu e o mar, tudo sabia e tudo escrevia, como se dentro dela todas as fadas encantadas tivessem morada e todas as estrelas fossem sua morada.
E eu que tive o privilégio de a conhecer e de me encantar com a sua escrita sublime, com a sua forma de ser humilde, com o seu sorriso meigo, doce e algo envergonhado, quase pedindo desculpa por existir, faço este pequeno registo, antes que chegue o dia em que a folha que sou caia e se dilua na finidade dos dias, para que a memória não se perca pelos tempos...
Dedico estas palavrinhas à Pastora de Palavras,autora das pérolas cuja capa trago aqui, e de outras iguais.
Com toda a minha estima, amizade e gratidão.