31/12/11

Findou o ano. os raminhos secaram. os rios encheram, assim como os corações que amam.
Aí está um novo Ano, trazendo o verde aos ramos, o sol que brilhará nas águas e nos corações, como as estrelas no céu...
Para todos os meus amigos, daqui ou de outros "aquis" desejo um excelente reabrir da esperança.
Feliz 2012!
Um beijo enorme.

10/12/11

na pontinha das agulhas caíram gotas dos teus olhos orvalhados...


a quem muito agradeço e que vale a pena ser visitada.

02/12/11

Viagem

viajei aos confins dos segredos
deste pó secular
viagem longa, dolorosa
mas cujo final
vale a pena
para ver o sol brilhar...

24/11/11

simplicidade

Que mais posso eu desejar na vida que manter as minhas cabras saudáveis e felizes, menina? - perguntou o pastor quando as árvores coavam a luz do sol tornando-as em tons de sépia.

olhei-o. Sorrimos os dois continuando o caminhar...

12/10/11

Faz de conta...

Ali estava ela.

Perdia-se no tempo dos tempos a sua idade, mas ela ali estava serena, olhando tranquilamente o que à sua volta se passava. Tinha sobrevivido a ventos e calmarias, ouvira dia a dia o rugir da água precipitando-se parede abaixo, assim como o suave e doce gotejar em longos estios, onde outrora jorrando furiosa, ficava agora um pequeno e débil fio, quase não conseguindo molhar as ervas a seus pés, no pequeno lago.
Gostava de observar os passaritos que alegremente vinham pousar nos ramos mais altos das árvores, suas vizinhas enchendo o ar de chilreios e cantos diversos e as pessoas que saciavam o corpo cansado na calmaria das águas frescas do lago, indiferentes à sua presença.
Para os humanos, ela era apenas uma espécie de cadeira ali à mão, onde se podiam sentar, ou um simples cabide onde podiam pendurar as roupas enquanto se banhavam no lago.
O que eles não sabiam, porque lhes faltava sensibilidade para isso, talvez (pensava a pedra) era que ela não era uma pedra vulgar.
Sobressaindo destes humanos havia um, que gostava de ficar ali sentado a seus pés falando com ela.
Já tinham tido longas conversas e tecido algumas teorias sobre o comportamento humano e o porquê das coisas.
Naquele dia, já o Verão se despedia e a água caía mais lenta, em sossego convidando à conversa, apareceu, desceu as escadas e sentou-se a seu lado mansamente, como era seu apanágio começando a falar.
- Olá pedra, chamo-te pedra, mas um dia destes, ainda te vou dar um nome diferente disse, como se falasse mais para si que para ela. Tenho andado a pensar nas manifestações que se fazem um pouco por todo o mundo e que aparentemente nada mudam. Parece até que elas são permitidas para isso mesmo, não surtirem qualquer efeito. O povo explode, faz uma festa, a polícia acorre, bate a torto e a direito, e depois tudo cessa e tudo continua na mesma, em alguns casos talvez pior.
Basta ver o que se passa neste nosso tão belo, mas tão mal amado Portugal. O povo veio à rua e olha o que deu - passos perdidos com ar de achados, cenas carnavalescas diárias, um jogo de esconde-esconde onde afinal não se esconde nada, as portas passaram a ter honras de estado e ficam em bicos de pés para parecerem maiores, e por aí fora que não te quero cansar com estes meus pensamentos. Estou apenas à espera que as janelas tenham as mesmas honras e se abram por onde saiam os pássaros livremente.
- Olha amiga, sabes o que te digo? As manifestações são como os rios em tempos de enxurrada. Soltam-se as águas em alvoroço até que a chuva pare e o rio volte ao seu nível mais baixo ficando em alguns casos um pequeno regato.
Observa o que se passa nas barragens, (que os humanos tanto gostam de construir usando o desenvolvimento como mote) esquecendo quanto sacrificam a natureza.
Quando chove muito, quando o caudal engrossa tanto que ficam em risco os alicerces da barragem abrem-se as comportas, por onde jorram as águas em fúria sacrificando a albufeira, mas sabendo que os alicerces ficam intactos.
Assim é com as manifestações.
Calaram-se ambos, humano e pedra ficando cada um entregue aos seus pensamentos.
Entretanto, o sol tinha declinado e uma capa de penumbra ia cobrindo o local. Era o sinal para se despedirem até outro momento...

28/09/11

Parabéns!

Sim. sei que fui o núcleo que te deu vida. Sempre soube que irias ser um Ser diferente e um dia te libertarias do núcleo de onde vieste. Hoje, é o dia. e eu te desejo grandes e frutuosos voos em espiral de felicidade crescente!


10/08/11

Asas


Era um dia igual a tantos outros.
A mãe preparava a refeição para saciar a família enquanto o petiz por ali cirandava entre a cozinha e o quarto brincando alegremente.
Da cozinha podia ouvi-lo em animados diálogos com os seus amigos imaginários, presença sempre constante na vida familiar.
De repente, algo desviou a atenção da mãe. Um piar aflitivo vindo do pequeno quintal anexo à cozinha.
Limpou as mãos e foi ver a que se devia tão aflitivo chamamento.
Um pequeno pardal, que mal sabia ainda usar as asas, esvoaçava pelo pequeno tufo de cactos de folha larga tentando a todo o custo equilibrar-se e  lançando  aqueles pios lancinantes chamando pelos pais que deveriam andar por perto.
Aos gritos acudiu também o menino e vendo o pequeno pardal disse de imediato:
- Mãe vamos arranjar uma gaiola e ficamos com ele sim?
A mãe encarou-o muito séria e disse-lhe:
- Gostavas que te fechassem numa gaiola? Vamos arranjar-lhe uma caixinha com lã como se fosse um ninho, vamos alimentá-lo, dar-lhe água e deixá-lo livre. Os pais devem andar perto. Vão ajudá-lo a fortalecer as asas e ensiná-lo a voar.
Quando chegar a hora e ele estiver preparado irá, voando com o resto da sua família e ganhando os céus, livre!
- Ó mãe mas assim ficamos sem ele, disse a criança fazendo uma carinha triste.
- Não perdemos o que nunca foi nosso, meu filho. Nosso é apenas o que fizermos pela vida fora. Não te esqueças disso. Um dia, também tu ganharás asas e voarás como o passarinho.
- Ganho asas? –perguntou o menino substituindo o ar entristecido por um ar muito admirado.
- Sim, ganhas. Um dia vais ter um lindo par de asas, e vais usá-las para realizar os teus sonhos e voares,  livre como os pássaros, saindo do ninho.
Nos dias que se seguiram mãe e filho divertiram-se a alimentar o pequeno pardal que passava os dias nas folhas do cacto e na mão da mãe do menino, onde ficava muito quietinho olhando o céu, e à noite dormia no ninho improvisado.
Certo dia, observaram outros pardais, com aspecto adulto, virem alimentar o pequeno pardal fazendo pequenos voos até ao cimo do muro do quintal incentivando-o a voar.
- Um dia destes o passarinho vai embora, filho – disse a mãe preparando a criança para o inevitável.
- Eu sei mãe. Não faz mal. Já me explicaste que ele tem asas para as usar e voar livre, que um dia também eu terei as minhas. Irei e serei como ele. Quem sabe ainda nos encontramos, não é? Mas tenho medo que fiques triste.
A mãe sorriu levemente dizendo que a obrigação dos pais é ajudar a que os filhos criem asas e as saibam usar. Nessa altura é chegada a hora de largar o ninho e treinar os voos. A mãe não ficava triste.
Como já era esperado o passarinho começou a ganhar confiança, trepou primeiro apenas até ao primeiro ramo da nespereira e caiu. No segundo dia, ganhou um pouco mais de céu. Assim continuou sempre incentivado pelos adultos, até que conseguiu ganhar asas e voar até ao lado de lá do limoeiro onde os outros o aguardavam, felizes e saltitantes.
Mãe e filho ficaram a vê-lo desaparecer por entre os ramos, ervas secas e altas, sabendo que já seria capaz de ganhar os ares e voar livre, vencendo o medo.
Nessa noite, o menino sonhou que lhe tinha nascido um lindo par de asas…

17/07/11

Sede


Quando a tua música
Toca no meu coração
Sento-me em silêncio
ouvindo-a apenas
e aos trinados dos passarinhos,
os zumbidos das abelhas,
o coaxar das rãs,
o ondular da água na cascata
sons que se lhe vêm juntar
à música que o meu coração escuta…
cascata cantando de pedra em pedra
beijando o meu corpo
que se lhe oferece sequioso
matando a sede.

03/07/11

in.viver


Talvez não saibas que passaste pela vida desaproveitando
Um Olhar
admirar
Um pôr -de-sol
Um sorriso em rosto amigo
Querido
O desabrochar do botão
O re.nascer do dia
 uma manhã radiosa
o cheiro da terra molhada
e do vento ciciando nas canas
como quem sussurra segredos
e hoje…
em que os dias
trazem no seu seio contagem decrescente
os medos…
será porque finalmente sabes?...

14/06/11

Avesso dos dias


Ainda que o avesso dos dias seja uma constante
Nesta caminhada em passo célere
Há sempre uma esperança
Na folha que se espraia
Espelha
espalha
Lentamente
Delicada
E colorida
No espelho de água
verde...


Até que os passos sejam de regresso.
A foto tirei ali num local de Lisboa.

26/05/11

Alecrim

Talvez não saibas
mas os dias mais
brilhantes
são aqueles
em que o vento
me traz um cheirinho
a alecrim,

Talvez não lembres
os dias felizes
em que o alecrim
floria nos teus olhos
e os sonhos eram
eternizar
a Primavera.

21/05/11

Amizade

As ondas batem na rocha
fortemente
cheios de fúria sopram
os ventos
mas há sempre uma
rocha que resiste.
pega nela, usa-a!
constrói os alicerces
da tua amizade!...

15/05/11

A Pedra


Era uma pedra. Igual a tantas outras pedras.
Mas o local onde nascera tornava-a diferente das outras pedras.
O sol, desde o nascer, até ao deitar incidia nela emprestando-lhe um brilho incomum.
Por ali passavam muitas pessoas que paravam admirando aquele brilho. Mas todas seguiam o seu caminho.
Só ele, parecia ficar encantado nas sombras, luz, e reflexos, de tal forma que vinha todos os dias como quem obedece a uma atração à qual não consegue resistir.
Tanto admirou que começou a nascer dentro dele o desejo de ter para si aquela bela pedra.
Um desejo que foi crescendo ocupando-lhe o pensamento . Teria de possuir aquela pedra. Teria de ser sua.
Quanto mais resistia à ideia mais ela ganhava forma e corpo na sua mente.
Tanto fez, tanto admirou, tanto segredou que convenceu a pedra a deslocar-se do seu lugar e ser sua.
Mas... a sua essência era a de uma pedra. Ele tinha-se deixado ofuscar pelo brilho. Quando já certo da sua posse, olhou para a pedra viu apenas pedra, exclamou:
- Mas és apenas uma pedra!
A pedra, embora entristecida respondeu:
- Sempre fui pedra. Apaixonaste-te pelo meu brilho mas não pela minha essência.
Então, a pedra que era apenas uma pedra, deu um salto voltando para o lugar que era o seu e onde podia ter o brilho, reflexos de sol e sombra continuando a fazê-la parecer diferente.
Quem por ali passava parava, admirava, mas seguia o seu caminho porque a pedra era apenas uma pedra...


Foto de Z. a quem agradeço.