24/02/13

A viagem



A história que vos vou contar passou-se num tempo, em que animais, humanos e toda a natureza viviam em comunhão, harmonia e liberdade.

Todos partilhavam o espaço comum, procuravam conhecer-se melhor e ajudar-se mutuamente.
Hoje, vou falar-vos de uma cria de loba e de uma borboleta que, parecendo dois seres tão diferentes podem, se quiserem, encontrar pontos comuns para uma verdadeira amizade.

As crias, como todos sabem, são curiosas e aventureiras, sempre prontas a partir à descoberta.

Certo dia, quando já queria lutar pela sua independência, a cria afastou-se e foi andando, andando até se encontrar totalmente perdida.
Desorientada, olhou para um lado e para outro, a ver se conseguia descortinar o caminho de volta, ao aconchego da toca e da sua família.
De repente, levantou a cabeça e mesmo por cima dela, passou um ser leve e delicado, com o corpo coberto de várias risquinhas coloridas que se abriam sobre as suas costas, como se fora um leque e que ela não conhecia.
Parou para ver melhor aquele ser extraordinário, e admirado perguntou:

- Quem és e como te chamas?

- Eu sou uma borboleta e chamo-me borboleta, respondeu o serzinho.

- O que é isso que se abre sobre as tuas costas e para que serve? – perguntou de novo o lobinho.

- São asas e servem para voar – respondeu a borboleta, pousando graciosamente nas costas do lobinho.

- Nunca tinha visto ninguém igual a ti. Porque não tenho eu umas asas assim? perguntou de novo.

- És um lobinho. Os lobinhos não têm asas e não voam.
- O que é voar?
- É poder andar pelo ar em vez de pelo chão, percorrer as flores, aspirar o seu néctar e, poder por exemplo, subir para as tuas costas sem cair nem te magoar.

Esta explicação aumentou ainda mais a curiosidade do lobinho que repetiu admirado:

- Podes voar de flor em flor, conhecer outras terras, aquelas de que os velhos lobos da alcateia falam?

- Claro que sim – respondeu a borboleta.
Lobinho e borboleta fizeram um pequeno silêncio que foi quebrado por ele.

- Borboleta, vou chamar-te fluflu daqui em diante. Queres ser minha amiga? Vais mostrar-me os mundos que conheces?

- Gosto muito desse nome que inventaste para mim lobinho, a ti vou chamar-te simplesmente lobinho. Gosto do nome. Sim vamos ser amigos. Eu mostro-te o mundo que conheço e tu, o que conheces.

- Mas há um problema, disse o lobinho. Não tenho umas asas como tu e por isso não posso voar. Apenas posso correr montanhas e vales contigo nas minhas costas.
- Tu ainda não sabes, mas não sou uma borboleta qualquer. Posso perfeitamente dar-te asas para quando precisares voar. Mas fica um segredo só nosso.

- O lobinho ficou tão perplexo e ao mesmo tempo tão feliz que apenas foi capaz de articular um sumido: está bem!

Depois disto, por ali se quedaram conversando, conversando cada um dizendo ao outro o que conhecia do mundo.
Já tinha anoitecido e o lobinho deu-se conta de que não podia ficar ali sozinho. Disse à sua nova amiga que queria voltar para casa, mas que se tinha perdido e não sabia o caminho.

- Não te preocupes, sossegou-o a borboleta. Levas-me nas tuas costas e ensino-te o caminho para casa, queres?

 - Claro que sim. Fazes isso? Sabes o caminho para a minha toca?

- Sei. Vamos!

Chegados a casa, a mãe já ralada com a demora do lobinho, quando os viu chegar abraçou muito o filhote e, depois das apresentações, agradeceu à borboleta.
Mãe esta é a minha amiga fluflu. Posso brincar sempre com ela?

- Claro que podes, meu filho, respondeu sorrindo a mãe.
Nesse dia começaram uma viagem, que ambos queriam e esperavam, não ter fim...


Foto da net alterada por mão amiga

Conto lido na Tertúlia do Grupo Et Quoi de Aveiro, em 24-2-2013