28/04/20

O Amor faz milagres

Não acredito que alguma vez uma folha tenha sido tratada com tanto desvelo, carinho e amor.

Estava na moda o condomínio fechado. As pessoas, adultos e crianças foram gradualmente perdendo a liberdade da rua confinadas a muros e portões fechados, pelo medo de serem assaltados, ou simplesmente pela vontade de estarem isolados dos demais. Havia até quem se sentisse muito superior por morar num sítio desses.

Era uma superfície não muito grande, mas bem cuidada. Muitos prédios com muitos andares, que se fechavam em círculo, para uma praceta cujo chão, o que sobrava da entrada de garagens, era gramado, sempre bem aparado, mas com poucas flores. Estas podiam ver-se, mas em vasos, nas varandas dos prédios.

Todos os dias da semana ela atravessava este espaço, para ir tomar café, a um pequeno bar que havia nesse empreendimento.

Gostava de aproveitar aquele intervalo para apreciar as flores a espreitarem emprestando tanta variedade e colorido às varandas.

Num desses dias, um pouco desviada do sítio por onde os seus passos seguiam viu algo no chão, que lhe despertou a atenção. Aproximou-se e verificou ser uma folha pequena, completamente esmagada. Talvez por pés menos cuidadosos, pensou.

Baixou-se para ver melhor, mas não reconheceu a folha. Então com imensa delicadeza para tentar apanhar o que sobrava da pequena e esmagada folha recolheu-a na mão e levou-a consigo.

Parece a folha de um cacto, pensava enquanto olhava para ela. Será que dá flor? Será que vai ressuscitar? Todas estas perguntas lhe acorriam enquanto se dirigia à mercearia local para comprar o que necessitava.

Comprou um pequeno vaso, um saco de terra especial para cactos. Levou-os para o seu gabinete de trabalho e ali colocou a folha. Regou um bocadinho para aconchegar à terra e ali ficou. No trabalho, onde passava o dia, tinha muito mais oportunidade de a vigiar do que em casa, onde ia praticamente só passar a noite e pouco mais.
Logo que chegava ao gabinete ia verificar a folhinha e falava com ela amorosamente.
- Folhinha gosto muito de ti. Não sei o que irás dar, mas gostava muito que conseguisses resistir. És fêmea por isso resistente. Nós somos capazes de resistir a ventos e marés, a coisas que até nos parece impossível, mas sobrevivemos. Por isso, vá lá. Resiste!

O tempo passou e um dia notou que a folhinha estava viçosa e com um ser minúsculo que despontava de si. Que alegria quando verificou que era uma folhinha nova que aí vinha. Tinha ressurgido das cinzas, ou melhor, da pisadela.

Esta folhinha teve outra e outra e ainda outra. Talvez tenha passado um ano. Começou a formar-se na ponta da folha, um pontinho vermelho. Será que aí vem uma flor? Qual será? Que cor terá? Já não aguentava a curiosidade, mas todos os dias notava aquele pontinho a tornar-se maior, maior e maior até que uma manhã, quando abriu a persiana, lá estava com todo o esplendor possível uma flor como se fosse uma linda estrela vermelha! Maravilha, todo o cuidado e tempo de espera tinham valido a pena.

Tornou-se uma linda e viçosa planta enchendo o vaso de ramos e flores que fazem as delícias de quem a olha.

O amor compensa e faz milagres!

4 comentários:

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

TB

um texto terno e muito suave, cheio de amor pela natureza.
gostei muito.
beijinhos minha amiga

:)

Graça Pires disse...

Linda a história, minha Amiga Teresa. O amor faz sempre milagres…
Um bom fim de semana.
Um beijo.

Jorge P. Guedes disse...


TERESA

O amor pelas coisas e pelas pessoas geralmente compensa. Li com agrado a gentileza e ternura postas nas palavras com que nos contou esta história, provavelmente as mesmas com que o cacto terá sido cuidado. Compensou, sem dúvida.

Um abraço.

P.S.- Afinal, o seu link já estava no Sino da Aldeia. Direitinho e sem falhas.

Parapeito disse...

Mais uma vez as tuas palavras nos embalam.
Gostei muito deste teu milagre minha amiga.
Sempre bom, seguir as Linhas de pensamento(tuas).
Abraço e brisas doces ****