Que o Natal que se avizinha, tempo de renascimento e magia no Mundo, traga a Paz ao coração da Humanidade.
Boas Festas para todos!
18/12/23
Boas Festas
09/12/23
04/12/23
04/11/23
Eu, candeeiro de rua
Repousava tranquilamente, nas profundezas da terra que me criou, juntamente com todas as irmãs, nas nossas casas, chamadas jazidas, onde me sentia feliz e protegida.
Num certo dia, não sei precisar quando, porque era uma pedra e pedra não tem calendário, nem relógio, nem tempo, eis que chegam humanos e máquinas barulhentas, que nos abanam, estremecem, perfuram e arrancam à força da mãe que nos deu vida e amparo.
Transportam-nos em camiões barulhentos e levam-nos para um buraco que nos engole, tritura e nos transforma em pó. Pensávamos morrer ali, mas não. Misturam-nos com água e outros minerais e transformam-nos em algo a que ouvi chamarem cimento. Depois disso juntam-nos a outros desconhecidos, num enorme depósito e deixam-nos em repouso, embora sem sabermos o que ali esperávamos.
Numa certa manhã, em que o sol estendia os seus raios pela janela, abriu-se de repente uma espécie de boca grande, fomos sugados e metidos à força, numas gaiolas estreitas e compridas onde ficámos até nos sentirmos completamente secas. A seguir, retiram-nos da gaiola e dão-nos liberdade, separando-nos em várias filas muito direitinhas e ali ficámos quedos e mudos.
Vieram uns homens e começaram a falar perto, por isso eu pude ouvir perfeitamente o que diziam:
- Estes postes ficaram de excelente qualidade e dentro em breve serão espalhados por aí, segurarão os fios, serão colocadas as lâmpadas e darão uns belos candeeiros de iluminação pública.
Ao ouvir isto compreendi no que me tinha transformado e para o que ia servir.
Fiquei surpreendido, mas satisfeito. Afinal seria a luz que iluminaria a noite e os caminhos. Veria e faria ver, homens e outros bichos, a lua a brilhar desafiando a minha luz e a do sol.
Certo dia colocaram-me, juntamente com outros iguais, num enorme camião e levaram-nos para uma rua, espalhando-nos a uns metros uns dos outros, abriram um buraco e colocaram-nos lá o pé dentro. Senti-me a voltar à terra mãe.
Ali fiquei, alto e garboso a iluminar quem passava, junto a uma modesta casa, encostadinho ao muro.
Tornei-me o poste mais belo da rua, pois que ao longo do muro começou a crescer uma bela trepadeira, que me fazia lembrar videiras e que gentilmente me enlaçou, enrolando-se toda à minha volta. Aceitei e entreguei-me completamente a esse abraço. Quem por lá passa, não pode deixar de parar e contemplar esta prova viva de amor entre dois seres tão diferentes.
05/02/23
A menina que pintava sombras
Desde tenra idade, que despertou nela a curiosidade de olhar as sombras. Aqueles desenhos que davam asas à sua imaginação, encantavam-na. Olhava uma simples folha e espantava-se pela imagem que dela podia sair, conforme a posição do sol. Um barquinho cavalgando as nuvens, como ondas do mar, o desenho da própria folha, cuja imagem de sombra era sempre cinzenta. Assim que conseguiu pegar num lápis e desenhar começou a desenhar as sombras de tudo o que via por onde andava.
Olhava as árvores cuja sombra dos ramos nus, ou das
folhagens frondosas desenhavam quadros que ia pintando em sequência, registando
as horas do sol.
Quem sabe um dia ainda faço um filme de sombras?
-pensava.
O facto das sombras serem cinzentas mais claras ou mais escuras, sempre a intrigou, por isso, quando já sabia ler e escrever foi procurar. Foi à net e perguntou ao senhor Google que diziam tudo saber:
Porque é a sombra cinzenta? Obtendo a seguinte resposta:
- A maioria das pessoas diz que a sombra é preta ou cinza, mas esta não é a explicação mais correta. Na verdade, a sombra é da cor da superfície onde se encontra, porém mais escura. A explicação é simples: se uma parede é verde, esta cor aparece nitidamente quando a parede estiver bem iluminada (por uma luz branca). Porém quanto menos luz iluminar a parede, mais escura ela parecerá ser, embora continue a ser verde (será um verde mais escuro). Assim, a sombra nada mais é do que a pouca iluminação de uma determinada área de uma superfície, em relação a outra mais iluminada.
Ficou admirada. Nunca mais iria dizer que a sombra era cinza, embora fosse muito difícil pintá-la de outra cor qualquer. Se a colorisse deixaria de se parecer com uma sombra, não é?
21/12/22
15/11/22
Sementeira
Semeei pirilampos num lençol de água. Assim, quando a noite chegar, talvez se acendam sóis, no teu olhar.
30/09/22
03/09/22
Espelhos
vaidosas das suas nuances em azul,
que o sol vai beijando lentamente,
criando matizes nas pedras,
que na mansidão transmitem
paz e serenidade ao meu olhar.
Há um momento mágico,
onde todas as fogueiras são esquecidas,
todos os sóis se acendem,
em comunhão com a Terra Mãe.
23/08/22
30/05/22
Esperança
Há no mundo, um manto escuro e obscuro que se estende como teia de aranha sobre as moscas, que me faz entristecer. Escolho o belo, o simples, o que cresce à minha volta, onde o meu olhar se prende, fazendo rejuvenescer a esperança, a certeza de que existe um outro mundo
Em que vale a pena viver!
20/05/22
Silêncio
Silenciou-se o vento, a brisa, o sol. Ficámos, eu e os contrastes, as coisas ínfimas, das quais me sinto pertença.
13/04/22
16/02/22
Desencontros dos dias
Porque será comigo recorrente
sem porquê nem piedade
os dias de calendário sobreporem-se
como se todos os outros
acabassem sem amanhã?!
02/02/22
Desconstrução da planura
24/01/22
Hansel e Gretel o verdadeiro conto
Quando, na entrada do Verão, cheguei àquela aldeia piscatória da qual tinha ouvido falar através de amigos, fiquei maravilhada com o que os meus olhos viam. As casinhas de madeira alinhadas ao lado umas das outras, cada uma pintada em riscas de cores garridas, aos pedacinhos como se de um puzzle se tratasse, encantavam qualquer olhar mais sensível. Ao longo de um molhe que protegia as casinhas do enorme areal, repousavam barcos, cada um com sua cor e nome, alguns bem pitorescos.
O nosso olhar poderia alongar-se até à linha do horizonte
perdendo-se em pensamentos e sonhos.
Dispus-me a passear lenta e demoradamente em
reconhecimento por um sítio que tanto me encantou, logo ao primeiro olhar.
Embrenhei-me pelas ruelas muito bem limpas cumprimentando
as pessoas que por mim passavam. Entrei numa pequena mercearia, daquelas em que
se vende um pouco de tudo tentando pedir informação de onde dormir. As pessoas
mais simples são, por norma, muito solidárias e todos me quiseram ajudar.
Aconselharam-me a casa de um casal de pescadores, que
tinha duas belas crianças, um menino e uma menina, parecidos entre si, com
cabelos pretos como azeviche, tez morena tostada do sol e sal do mar, uns olhos
verdes, rasgados e brilhantes como quem queria, a todo o momento abarcar o
mundo.
A sobrevivência deste casal de pescadores dependia apenas
da pesca e de tudo o que o mar dava. Mas, como nos últimos tempos, o mar estava
parco em generosidade, resolveram arrendar o quartinho, para poderem fazer face
às despesas e alimentar as crianças.
A casinha apesar de humilde era muito limpa e tinha as
coisas necessárias para uma confortável estadia. Um quarto não muito grande,
mas banhado pela luz e claridade do sol que entrava a jorros pela janela e de onde
se podia ouvir o som do mar, que embalava e convidava ao sono tranquilo e
repousante, apenas a uma sesta breve ou, tão só, ficar ali a olhar. Era o
suficiente para mim.
As crianças depressa fizeram amizade comigo e queriam que
as acompanhasse nas suas brincadeiras. Lá íamos, cabelo ao vento, dando o rosto
ao sol, passear naquele imenso areal construindo castelos de areia e sonhos,
risos e gargalhadas, a que se juntavam os sons das gaivotas que vinham nos seus
voos rasantes como quem se junta à brincadeira.
Ao descobrirem que sabia cozinhar bem caracóis e que era
um petisco que apreciava, as crianças tiveram a ideia de propor aos pais que
juntassem os amigos e alguns conhecidos, pois que ali ainda viviam numa espécie
de comunidade, onde cada um por todos e todos por cada um, se ajudavam e participavam
das alegrias e tristezas e as viviam juntos, apanhassem caracóis, que naquela
altura já estavam agarrados às palhas secas, e os preparasse para toda a
comunidade, num momento de grande satisfação para todos. Assim fizeram e foi
muito agradável ver a alegria geral e a deferência com que me brindaram em
olhares e elogios. Um momento que não vou esquecer, nunca.
A partir desta altura ainda mais nos unimos, eu e as
crianças, e fazíamos caminhadas por terra, onde, na curiosidade própria de
jovens, queriam aprender o nome e a importância das plantas e da proteção das
dunas, de respeitar a natureza, sentindo-nos parte integrante dela.
As caminhadas à beira do mar também eram agradáveis e
imaginativas.
Uma tarde em que a água escaldava e por isso não dava
para se meterem nela, ficaram sentados, pés na areia, onde cavaram um pequeno
buraco, para refrescar e deram asas à imaginação.
Construíram e visitaram um mundo dos mais belos e
coloridos corais, onde vivia um monstro marinho, que ao contrário de todos os
monstros marinhos conhecidos, era generoso e sempre pronto a ajudar os outros
seres que com ele coabitavam, como por exemplo, as anémonas e que tinha para
essa tarefa tão nobre, o Nemo, seu ajudante, peixe de grande colorido que se
dedicava a limpar delicadamente cada pedacinho de chão, haste, ou alga, ou
mesmo pessoa que estivesse em apuros.
Tinham um pote cheio de tesouros, pedrinhas pretas e
dentinhos de peixe, recordações dos filhotes que por lá tinham passado, usando
para isso, um velho carro que tinha caído junto ao recife e que agora era um
mundo de vida e cor.
Assim, estas crianças nunca se perdiam. Conheciam bem
todos os recantos sabendo de olhos fechados, o caminho para casa, aconchego dos
braços amigos de seus pais, que os esperavam ao final do dia, com um enorme sorriso.
Elas apenas se deixavam perder pelas ruas da imaginação, por onde eu, durante
uns maravilhosos dias, me deixei perder também, com elas.
Nota: trabalho de Escrita Criativa baseado no conto de Hansel e Gretel, mas modificado com alguns parâmetros obrigatórios