A chuva, mais do que esperada era um
desejo instalado na maioria das pessoas, de tal modo que até faziam
rezas e empenhavam a palavra de padres, bispos, arcebispos e,
desconfio que até do papa, todos reunidos em oração pedindo aos
céus que mandassem bastante chuva para lavar as marcas dos desatinos
do Verão, queimadas que se transformaram em verdadeiros fornos
crematórios. No entanto o céu não deixou cair mais do que meia
dúzia de gotas, envergonhadas.
Mas eis Dezembro chegado, e com ele
o Natal.
Depressa foram esquecidas as rezas,
os incêndios, a falta de chuva.
Acudindo de forma vertiginosa ao
chamamento do deus consumo, o povo corre apressado, enchendo carros e
mais carros, é comprar antes que esgote, as prendas, o bacalhau, as
promoções que destas apenas tem o nome, sem olhar a preço nem a
gastos… e depois logo se há-de ver. Seja o que Deus quiser.
Só que a Natureza também tem os
seus caprichos. Como se esperasse que todos se esquecessem e
apanhando-os distraídos, de um momento para o outro o céu
fechou-se, o vento de brisa leve e fresca passou rapidamente a
rajadas fortes. Alertas amarelos, vermelhos, mensagens para as
embarcações, fecho de pontes, portos, a TV nos seus canais
sensacionalistas, a debitarem avisos de arrepiar e todos, a
recolherem ao aconchego e abrigo de suas casas, os que as tinham…
estava instaurado o pânico.
A chuva, como quem a despeja a
potes, começou a cair de forma tão intensa formando cortinas de
bátegas que não deixavam ver nada, dia e noite, noite e dia, de tal
forma que agora as rezas eram para que aquela massa de água
inclemente cessasse.
Mas não parou. Encheu rios e
fontes, barragens e represas, rebentou diques mais fracos, entupiu
sargetas que tinham ficado esquecidas, inundou estradas, caminhos de
ferro e veredas, encheu as casas, arrastando à sua frente tudo o que
encontrava. Durante sete dias e sete noites o céu despejou.
Passado este período, o sol acordou
radioso e belo, quente e sorridente banhando tudo com os seus raios
de luz.
As pessoas começaram a sair e cada
uma, da forma que podia, verificou quem ainda estava vivo.escrito para tertúlia do Et Quoi- escrita criativa, sob o tema: para ver quem ainda está vivo.
3 comentários:
Um texto muito criativo, Teresa. E tens razão: a tendência para o exagero manifesta-se em tudo. No consumismo, nas notícias, no frenesim em que andam todos. E nem a Natureza faltou com o seu exagero...
Uma boa semana.
Um beijo.
gostei muito do texto,
um belo exercício de escrita
abraço
Amazing photo. Quite mysterious, really amazing. <3
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