19/10/24

Libertação


Era uma vez, uma jovem e bela borboleta, de asas amarelas e pretas, cheias de desenhos lembrando pequenos olhos.

Num fim de tarde, esvoaçando distraída procurando as flores da sua preferência, começou a sentir uns borrifos em cima. Parou admirada e verificou que chovia. As suas asas já cansadas de um dia a esvoaçar, começavam a pesar.


A chuva, como todos sabem e ela também, molha as asas e inibe-a de voar. Por isso, procurou um abrigo quentinho e seco. Voou um pouco e entrou numa porta que estava aberta.

Ali se deixou ficar, num cantito, fora do alcance da chuva.

A noite fechou-se e ela por ali se deixou estar.

Mas, arrefeceu muito e ela sentia as asas presas e imóveis.

Decidiu aproveitar. Fechou a asas, bem fechadas, fechou os olhos, recolheu as finas e delicadas patitas e dormiu. Assim, quando o novo dia chegasse estavam as forças retemperadas, para iniciar novos voos.

A manhã veio despertá-la no mesmo lugar. Tinha frio e queria voar para procurar alimento, mas não se conseguia mexer. De repente o sol despertou também, estendeu um raio para ela, e começou a dar-lhe a energia tão necessária.

Quando se preparava para sair reparou que começavam a entrar muita gente, humanos. Sobressaltou-se.

Sabia que deveria ter mil cautelas. A mãe tinha-lhe contado que os humanos são gente estranha, sobretudo em relação às borboletas. Havia alguns que as apanhavam e as espetavam com alfinetes condenando-as a uma morte horrível, para ficarem em exposição, onde depois as iam admirar, mortas.

À medida que o sol lhe aquecia as asas, que ela ia fechando e abrindo, ganhando energia, preparou-se para se esgueirar sorrateiramente, sem dar nas vistas. Mas… que era aquilo? Via lá fora tudo, mas não conseguia sair. Ela não conhecia os vidros e não percebia que estava no peitoril de uma janela.

Entretanto, e para sorte da borboleta, entrou uma humana que respeita todos os seres que consigo partilham a terra e vendo as suas tentativas, sabendo que não lhe podia pegar pelas asas, pois isso as danificaria, retirando aquele pozinho fino, tão necessário ao voo, pegou num pequenino guardanapo, colocou-o com muita delicadeza debaixo das suas patinhas, pequeninas e frágeis e passou a borboleta para a palma da sua mão aberta, ao mesmo tempo que lhe dizia:

- Não te quero fazer mal, apenas levar-te para a liberdade, por isso deixa-te ficar quietinha.

Ouvindo estas palavras, a pequena borboleta saltou alegremente para a mão deixando-se conduzir até à porta, onde levantou voo alcançando a tão desejada liberdade.

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