21/04/11

A rã

Há muito que vivia ali, sempre debaixo de água para passar despercebida.
As pedras eram a sua companhia. Solitárias e caladas apenas se olhando como quem sabe o lugar das coisas.
De quando em quando ouvia o chilrear dos pássaros que se misturava com as vozes dos humanos que por ali se deliciavam mergulhando nas águas do rio onde vivia.
Era nessas altura que sentia uma grande curiosidade e vinha à tona, lenta e timidamente espreitar o que se passava e por ali ficava, meio dissimulada pelas madeiras e ramos que lhe serviam de protecção. Usava de mil cautelas, pois já tinha ouvido uma conversa, sobre os humanos gostarem de se banquetear com as suas pernas.
Nessa altura, o seu coração de rã, já de si tão pequenino, ainda mais se encolheu pensando que poderia acabar, assim panada, no prato de alguém.
Graças ao seu cuidado, já tinha assistido ao passar de Verões, altura que atraía muita gente aquele local, a que ouvira chamar Praia Fluvial e que enchiam o ar com barulhos estranhos, fumo de brasas e odores de comidas várias. Nessa altura, os seus cuidados teriam de ser redobrados pois a água ficava povoada de crianças e pais brincando e mergulhando, como ela, dentro do Rio, numa amálgama de pés, mãos, braços e corpos.
Estava sempre desejosa que chegasse o Inverno, que trazia consigo a paz e o sossego, a água do rio ficava mais quente e caudalosa, o que permitia às ervas crescerem tapando uma grande quantidade de pedras que lhe serviam de abrigo.
Foi numa destas espreitadelas curiosas que eu a apanhei, não para lhe comer as pernas, mas sim, para a fixar na imagem e trazê-la até vós.

8 comentários:

MM - Lisboa disse...

Beleza pura!

Rui Girão disse...

Quando se consegue olhar para a Natureza pela perspectiva da tolerância, o resultado é este: "A inteligencia das palavras é acentuada pela bondade dos actos.
Muitos parabéns.

Unknown disse...

Estória pequenina, simples, mas encantadora. Quem a escreve revela uma grande atenção à Natureza, à Vida e uma extrema sensibilidade. Inteligência e beleza e amor, eis os ingredientes que usaste para nos ofereceres um presente de Páscoa tão lindo. Obrigado. E carícias à rã.

Parapeito disse...

:))))
Não terá espreitado para ver se tu lhe davas o beijo mágico?
Gostei***
brisas doces para ti****

Anónimo disse...

Bonita a alegoria da rã.Deixo um beijo
z.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

gostei da simplicidade da estória e tb da foto.

bom domingo de páscoa

beij

Sentado no Fim de uma Âncora disse...

Gostei de passar pelo texto
“timidamente espreitar o que se passava e por ali ficava”
e fiquei nesse bonito desejo
“chegasse o Inverno, que trazia consigo a paz e o sossego, a água do rio ficava mais quente”

... e neste extraordinário abrigo parece que fui fotografia, também.

tb disse...

A simplicidade e sensibilidade que te carcterizam, é sempre admirável. Parabéns, T, por nos presenteares com mais uma estória de encantar. Beijos

Et