Era uma vez, uma jovem e bela borboleta, de asas amarelas e pretas, cheias de desenhos lembrando pequenos olhos.
Num fim de tarde,
esvoaçando distraída procurando as flores da sua preferência, começou a sentir
uns borrifos em cima. Parou admirada e verificou que chovia. As suas asas já
cansadas de um dia a esvoaçar, começavam a pesar.
A chuva, como todos sabem e ela também, molha as asas e inibe-a de voar. Por
isso, procurou um abrigo quentinho e seco. Voou um pouco e entrou numa porta
que estava aberta.
Ali se deixou
ficar, num cantito, fora do alcance da chuva.
A noite fechou-se
e ela por ali se deixou estar.
Mas, arrefeceu
muito e ela sentia as asas presas e imóveis.
Decidiu
aproveitar. Fechou a asas, bem fechadas, fechou os olhos, recolheu as finas e
delicadas patitas e dormiu. Assim, quando o novo dia chegasse estavam as forças
retemperadas, para iniciar novos voos.
A manhã veio
despertá-la no mesmo lugar. Tinha frio e queria voar para procurar alimento,
mas não se conseguia mexer. De repente o sol despertou também, estendeu um raio
para ela, e começou a dar-lhe a energia tão necessária.
Quando se
preparava para sair reparou que começavam a entrar muita gente, humanos.
Sobressaltou-se.
Sabia que deveria
ter mil cautelas. A mãe tinha-lhe contado que os humanos são gente estranha,
sobretudo em relação às borboletas. Havia alguns que as apanhavam e as
espetavam com alfinetes condenando-as a uma morte horrível, para ficarem em
exposição, onde depois as iam admirar, mortas.
À medida que o sol
lhe aquecia as asas, que ela ia fechando e abrindo, ganhando energia,
preparou-se para se esgueirar sorrateiramente, sem dar nas vistas. Mas… que era
aquilo? Via lá fora tudo, mas não conseguia sair. Ela não conhecia os vidros e
não percebia que estava no peitoril de uma janela.
Entretanto, e para
sorte da borboleta, entrou uma humana que respeita todos os seres que consigo
partilham a terra e vendo as suas tentativas, sabendo que não lhe podia pegar
pelas asas, pois isso as danificaria, retirando aquele pozinho fino, tão
necessário ao voo, pegou num pequenino guardanapo, colocou-o com muita
delicadeza debaixo das suas patinhas, pequeninas e frágeis e passou a borboleta
para a palma da sua mão aberta, ao mesmo tempo que lhe dizia:
- Não te quero
fazer mal, apenas levar-te para a liberdade, por isso deixa-te ficar quietinha.